

A principal causa de incapacidade no Brasil, o Acidente Vascular Cerebral (AVC), tem feito milhões de vítimas por ano em todo o mundo. Somente em 2024, foram mais de 85 mil óbitos no país pela doença, segundo a Sociedade Brasileira de AVC.
Para chamar a atenção da sociedade para o problema, o Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA) realiza pela quinta vez a Corrida de Prevenção do AVC, para levar conscientização em Feira de Santana. Será no dia 26 de outubro, com largada às 6h30, na Avenida Nóide Cerqueira, com uma multidão puxando o lema “Salve Minutos… Salve Vidas”. Saiba como se inscrever aqui.
Na manhã da última terça-feira (9), a neurologista Renata Nunes esteve no Programa Acorda Cidade para falar sobre o AVC, que também é conhecido como derrame. Popularmente, o que acontece é que o fluxo de sangue para o cérebro é interrompido ou reduzido, resultando em falta de oxigênio e nutrientes para o tecido cerebral.
Os tipos de AVC são o isquêmico e o hemorrágico. “Pode ser por uma isquemia, por um coágulo, um trombo que obstrui esse fluxo, ou pode ser por um sangramento que acontece lá dentro do cérebro. […] O isquêmico acontece uma obstrução do fluxo de sangue. Que pode ser rápido, mas pode ser muito grande, pode ser tão grave ou mais grave que alguns AVCs hemorrágicos. A principal causa de AVC hemorrágico é por hipertensão arterial não tratada e outras causas.”
A médica destacou o quanto o AVC pode afetar a vida do paciente, que, a depender da gravidade, pode perder totalmente a capacidade.

“A gente tem aquele paciente que tem um AVC e ele fica com um quadro de sequela grave. Não é só uma pessoa doente, é a pessoa que para de produzir, para de trabalhar, que passa a ficar totalmente restrita e é a família dela toda que precisa se reorganizar para cuidar daquela pessoa que tem um quadro de comprometimento funcional significativo e, às vezes, fica restrita ao leito por conta de um AVC.”
Como prevenir?
Segundo a neurologista, 30 minutos de caminhada, três vezes por semana, reduzem o risco de um AVC em cerca de 25%. São hábitos saudáveis simples e frequentes que previnem o surgimento da doença.
“Motivar pessoas que, às vezes, têm uma vida sedentária e também pessoas que já praticam atividade física a fazer de forma regular uma atividade, e o objetivo foi esse, é ter esse dia para falar de prevenção e incentivar as pessoas do quanto a atividade física pode proteger de um acidente vascular cerebral.”
Quais são os sintomas?
Para tentar descobrir os sintomas, a médica explica que existe um mnemônico, uma técnica de memorização do SAMU.
S de sorrir: pedir ao paciente para sorrir; se o lado do rosto estiver torto, a boca estiver torta, pode ser um AVC.
A de abraço: pedir para o paciente dar um abraço; se um lado cai, também pode ser um AVC.
M de música: solicite que o paciente cante uma música ou fale algo. Se a fala fica embolada, a pessoa tenta falar e não consegue, pode ser um AVC.
U de urgência: chame o Samu. Na corrida para socorrer alguém que está tendo um AVC, cada minuto conta.
Janela de Socorro
O tempo crítico em que se socorre o paciente é fundamental para evitar sequelas futuras que podem afetar a fala, mobilidade, mas também levar à morte. No caso do AVC, essa janela pode durar até 4h e meia, de ser prestado o socorro dentro desse período.
“Se ele chega nas primeiras 4h e meia, a gente avalia a condição do paciente e verifica se pode fazer esse tratamento, que a gente chama de tratamento trombolítico, que é um medicamento que a gente faz na veia para dissolver esse coágulo que está ali obstruindo o fluxo e tentar resolver aquele problema, porque se o coágulo continua ali, se aquela obstrução do fluxo de sangue continua ali, a área de cérebro que o sangue precisa chegar e não chega, aquela área, ela vai morrer, e a pessoa fica com sequelas diferentes. Identificar os sintomas e procurar atendimento de médico de urgência é muito importante, porque pode definir totalmente o prognóstico de um paciente.”

Renata Nunes também alertou para o uso incorreto de medicamentos na tentativa de socorrer alguém que esteja tendo um AVC. O uso de ASS (ácido acetilsalicílico), por exemplo, aumenta o risco do paciente de se recuperar.
“Primeiro porque, se for hemorrágico e der o AAS e colocar embaixo da língua, a pessoa pode morrer por conta desse AS. Segundo porque atrasa o tratamento, prejudica toda a condição do paciente. Teve um sintoma como esse, procura o médico imediatamente.”
Quais as causas?
Levando em consideração os hábitos de uma vida saudável, que incluem a alimentação e exercícios físicos, as causas de AVC chegam na contração com diversos tipos de condições que, geralmente, são preveníveis com hábitos não sedentários, como hipertensão, diabetes, colesterol alto, obesidade, estresse e tabagismo. Além disso, algumas arritmias cardíacas.
“São doenças meio silenciosas, a pessoa que tem pressão alta, às vezes ela está ali, não tem grande sintoma, não sente nada, está seguindo sua vida. O diabetes, até começar a apresentar sintomas, a gente pode ter um comprometimento de muita coisa.”
Um alerta para a ansiedade desenvolvida por meio do estresse. Sem dúvida, esse é um fator precipitador e descompensador de várias condições de saúde. Segundo a neuro, um pico de pressão causado pela hipertensão é a principal causa de rompimentos de vasos cerebrais. “Hipertensão severa, aguda, pode causar uma ruptura de vaso cerebral e levar a um AVC hemorrágico.”
HGCA é porta aberta para socorro de AVC

Pelo Sistema Único de Saúde (SUS), em Feira de Santana, somente o Hospital Geral Clériston Andrade aplica a medicação intravenosa trombolítica para desobstruir a artéria. O HGCA é uma porta aberta para prestar socorro em casos de AVC na cidade.
“O Clériston Andrade hoje, ele não é um hospital de porta aberta para a maioria das condições, mas paciente com sintoma de AVC, em janela de trombose, como na rede SUS, o tratamento trombolítico só é ofertado lá, a trombose é realizada lá.”
Vale reforçar que, em sintomas de AVC em Feira, não se pode perder tempo buscando outras unidades de saúde na rede SUS, como UPAs e policlínicas. É importante ligar para o Samu; caso demore, ir direto para o HGCA enquanto está durando a janela do tempo de socorro. “Passou dessas 4h já fica mais difícil”, alertou.
Doença de Moyamoya e anemia falciforme
Ainda durante a entrevista, uma ouvinte trouxe o relato de uma criança, sua neta, de 8 anos, que já enfrentou quatro AVCs. Ela possui a doença de Moyamoya e anemia falciforme.
“AVC é uma doença que pode acontecer em qualquer idade. Pode acontecer em criança, adolescente, jovem; tem muito jovem com AVC. A doença de Moyamoya é uma doença que acontece por uma alteração da circulação dos vasos sanguíneos cerebrais naquele paciente que tem anemia falciforme. E ela predispõe a AVC de repetição. Então, não é uma coisa de todo mundo, mas ela pode acontecer. E é uma importante causa de AVC em pacientes jovens”, explicou a médica.
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