

A morte do cantor e compositor Jimmy Cliff, aos 81 anos, confirmada pela família nesta segunda-feira (24), despertou na Bahia uma memória marcada pela música e história. O cantor jamaicano, referência mundial do reggae, construiu em Salvador uma relação além das visitas de um artista estrangeiro. Isso porque ele viveu na cidade e criou raízes que marcaram sua vida e história da música baiana.
Jimmy Cliff desembarcou na Bahia pela primeira vez no fim dos anos 1970 e desde então, encontrou na cidade um lugar de convivência, amizade e inspiração. Nos anos 1980, viveu um dos momentos mais lembrados do público baiano: o show na antiga Fonte Nova ao lado de Gilberto Gil, com o estádio lotado por cerca de 60 mil pessoas. Gil havia sido escolhido por Cliff para abrir sua turnê no Brasil, e a parceria se repetiu em outras capitais do país.
Anos depois, Cliff voltaria à Salvador para o Festival de Música e Arte Olodum (Femadum), em 1990, estreitando a relação com o bloco afro. Participou de gravações em Salvador, circulou pelo Pelourinho e, em 1992, ajudou a dar visibilidade ao samba-reggae no exterior com o clipe de “Samba Reggae”, registrado nas ruas do Centro Histórico, marcando uma relação do reggae com a música baiana.
Passagem por Salvador
A passagem de Jimmy Cliff pela Bahia também tem capítulos curiosos e bem brasileiros. Em 1991, ele curtiu o Carnaval vestindo abadá, caminhando entre os trios e vivendo a festa como qualquer folião. Visitou a Fonte Nova mais de uma vez, assistiu aos jogos do Bahia e do Vitória, e as imagens dele com a camisa tricolor rodaram o país.
Nesta segunda-feira (24), inclusive, o Esporte Clube Bahia prestou homenagem ao artista, destacando o carinho que ele tinha pelo clube e pelas frequentes vindas à capital.
Filha baiana
Foi em Salvador que Cliff conheceu Sônia Gomes, artista plástica e psicóloga. A apresentação foi feita por Margareth Menezes, e o encontro aconteceu durante uma cerimônia de ayahuasca na praia. Da relação nasceu Nabiyah Be, atriz e cantora, hoje aos 33 anos, reconhecida internacionalmente.
Nabiyah cresceu em Salvador e sempre reforçou o vínculo com a cidade. Em entrevistas, contou que a mãe optou por criá-la na Bahia e que Jimmy Cliff morou com elas durante boa parte de sua infância. Aos 18 anos, ela deixou a capital para seguir carreira artística nos Estados Unidos, caminho que a levou a trabalhos como Pantera Negra e produções de teatro.

Jimmy Cliff morreu após sofrer uma convulsão causada por um quadro de pneumonia, conforme informou a família. Ele deixa três filhos e uma obra que atravessou fronteiras. Na Bahia, porém, fica também a memória de um artista que fez da cultura local seu espaço familiar.
Siga o Acorda Cidade no Google Notícias e receba os principais destaques do dia. Participe também dos nossos canais no WhatsApp e YouTube e grupo de Telegram.
