28 de April de 2025
acidente de trabalho - Trabalhadores soterrados
Acidente de Trabalho em Pojuca | Foto: Redes Sociais
A ideia é marcar o Dia Mundial da Segurança e da Saúde no Trabalho e alertar sobre o quanto a proteção no ambiente laboral é urgente.
acidente de trabalho - Trabalhadores soterrados
Acidente de Trabalho em Pojuca | Foto: Redes Sociais

Seja pelo excesso de carga horária, pela pressão de múltiplos empregos, pela precariedade das condições ou até por situações análogas à escravidão, o trabalhador moderno tem adoecido e cada vez mais.

Do corpo à mente, doenças como a Síndrome de Burnout se somam à sobrecarga imposta por jornadas como a 6×1, que rouba o tempo pessoal em nome da produtividade. Só em 2023, foram 732.751 casos de acidentes e doenças no trabalho no Brasil, segundo dados do Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho do Ministério da Previdência Social, número que pode ser ainda maior devido à subnotificação. 

Em meio ao Abril Verde, mês de conscientização sobre saúde e segurança no trabalho, o Acorda Cidade conversou com Verena Liberal, chefe da Divisão de Controle Epidemiológico e que já atuou no Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest) de Feira de Santana. A proposta é marcar o Dia Mundial da Segurança e da Saúde no Trabalho, neste 28 de abril, e provocar um alerta: falar sobre o quanto a proteção no ambiente de trabalho é urgente e necessária. Em tempos de imediatismo, enquanto alguns buscam a sobrevivência, outros sonham com uma escalada profissional de sucesso. 

Segundo Verena, os setores da indústria e da construção civil são exemplos de empregos que têm adoecido os trabalhadores, isso não apenas dentro da realidade de Feira de Santana e região, mas em todo o mundo. 

e - Verena Liberal
Verena Liberal | Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

Entre os principais desafios enfrentados em suas rotinas laborais, a especialista chama atenção para o ritmo cada vez mais exaustivo do trabalhador moderno. “Observe que muitos trabalhadores têm duplas jornadas, duplos vínculos, jornadas extensivas, horas extras frequentes. Muitas vezes tem um vínculo formal e outro informal, para que consiga pagar suas contas, meramente, viver e pagar suas contas.”

Sobre os dados de acidentes de trabalho no município, Verena explica que, embora os registros oficiais mostrem uma redução nos três primeiros meses de 2025 em comparação ao mesmo período de 2024, é preciso cautela na análise dos dados. Em 2024, nos seis primeiros meses, foram mais de 230 acidentes em Feira, segundo dados do Cerest. 

“Um acidente de trabalho é complexo. Existe aí uma série de elementos que precisam ser perpassados, como inspeção no ambiente de trabalho, investigação do acidente, análise de documentação até chegar na notificação. Então, por exemplo, acidentes que aconteceram nos primeiros meses desse ano, que ainda estão em investigação para que se possa compor esses dados. Então, a gente não pode ainda afirmar que esses dados vieram como uma redução.”

Informalidade

Outro ponto levantado por Verena é o avanço da informalidade, que fragiliza a proteção social dos trabalhadores no Brasil. Tem aumentado significativamente o trabalho informal e os trabalhos autônomos, o que desconfigura os vínculos, os direitos trabalhistas e também diminui os registros referentes a doenças ocupacionais e acidentes de trabalho. O empreendedorismo sem planejamento, incentivado como “desenvolvimento econômico”, prejudica a assistência de políticas públicas trabalhistas que já foram garantidas há anos pela população. 

Construção civil lidera em acidentes graves

A construção civil segue sendo o setor com mais ocorrências graves. Em fevereiro, dois trabalhadores foram soterrados em obra realizada para a Prefeitura de Pojuca, na Região Metropolitana de Salvador. “Principalmente acidente com óbito, queda de altura, acidente com maquinário. Não são só acidentes que importam, mas também acidentes na indústria com mutilações, ainda é uma frequência na nossa realidade”, lamentou Verena.

acidente de trabalho
Foto: Reprodução/Redes Sociais

O papel da Cipa na prevenção de acidentes

Neste sentido, Verena destacou o papel da Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes), para a prevenção dessas ocorrências no trabalho. “Uma Cipa que é robusta, uma Cipa que é atuante, a gente realmente reflete nesses números dentro da empresa. O papel dela é fazer com que a gente evite, com que a gente minimize os impactos daquele trabalho na vida e na saúde humana.”

Mas ela faz uma ressalva importante, não basta a existência formal da comissão,  é preciso que ela funcione dentro dos ambientes laborais. “É estar com essa Cipa atuante.”

Quem mais adoece?

Segundo Verena, adultos jovens entre 30 e 50 anos representam o grupo mais atingido pelos adoecimentos relacionados ao trabalho. Para ela, é fundamental que empresas adotem ações mais contundentes.

“Toda empresa precisa mapear os seus riscos, ter medidas para mitigar, diminuir os prejuízos que esse risco pode oferecer à saúde do trabalhador. Reforçar o uso dos EPIs (Equipamento de Proteção Individual), dos EPCs (Equipamento de Proteção Coletiva) e investir bastante em medidas de segurança.”

Acidente
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

E o papel de quem trabalha?

Verena também falou ao Acorda Cidade sobre o papel dos próprios trabalhadores na construção de um ambiente mais seguro. “Você vai para uma festa, perde a noite, muitas vezes faz abuso de álcool, e no outro dia tem uma responsabilidade de trabalho, está em um processo perigoso, são coisas que a gente também tem que trazer como noção de prevenção aos nossos cuidados e a nossa vida.”

A importância do Abril Verde

A campanha Abril Verde acontece anualmente com o objetivo de conscientizar sobre a segurança e saúde no trabalho, alertando empresas e trabalhadores sobre a importância de adotar medidas preventivas para garantir um ambiente laboral mais seguro e saudável. 

Para Verena, o momento cumpre um papel essencial ao colocar o tema em pauta. 

“O Abril Verde é para chamar a atenção à população, aos órgãos responsáveis, empresários, empresas, para que a gente consiga ter ambientes em prol da segurança dos ambientes de trabalho”, acrescentou. 

Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade

Leia também:

Dois trabalhadores são soterrados em obra no município de Pojuca; um está em estado grave

Mais de 230 acidentes de trabalho são registrados pelo Cerest nos primeiros seis meses de 2024 em Feira de Santana

Siga o Acorda Cidade no Google Notícias e receba os principais destaques do dia. Participe também dos nossos canais no WhatsApp e Youtube e grupo de Telegram.