23 de August de 2025
Bruna Trindade Gomes Carneiro pesquisadora da Uefs vence prêmio capes 2025
Bruna Trindade | Foto: Arquivo Pessoal
É a 1ª vez que uma pesquisadora da Uefs recebe o Prêmio Capes de Tese em Linguística, e o 2ª prêmio de tese conquistado desde 2013.
Bruna Trindade Gomes Carneiro pesquisadora da Uefs vence prêmio capes 2025
Bruna Trindade | Foto: Arquivo Pessoal

Mais uma vez a pós-graduação da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) obteve destaque no cenário acadêmico nacional. A pesquisadora Bruna Trindade Gomes, egressa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos (PPGEL), conquistou o Prêmio Capes de Tese 2025 na área de Linguística e Literatura, com o trabalho “Um códice em língua geral: edição, estudo paleográfico e sócio-história da Amazônia (1750-1758)”.

A conquista tem peso histórico para a Uefs. É a primeira vez que uma pesquisadora da instituição recebe o Prêmio Capes de Tese em Linguística, e o segundo prêmio de tese conquistado pela universidade desde 2013.

“Receber o Prêmio Capes de Tese 2025 tem um impacto profundo na minha trajetória, sobretudo por se tratar da única tese vencedora do país, nesta edição, na área de Letras (Linguística), e, ao mesmo tempo, do primeiro Prêmio Capes de Tese conquistado por uma mulher na história da Uefs. Também é o primeiro prêmio do PPGEL e o segundo já alcançado pela instituição.”

Ela lembrou que a tese foi desenvolvida durante a pandemia, no mesmo período em que se tornou mãe.

“Isso dá ainda mais sentido ao prêmio, pois simboliza resistência, conciliação entre maternidade e pesquisa, e a força de continuar produzindo ciência em contextos adversos. Espero que esse reconhecimento abra novas oportunidades de colaboração internacional, publicação e diálogo com a sociedade”, declarou.

Premiação será em dezembro

Bruna Trindade Gomes Carneiro e João Paulo Just Peixoto
Bruna Trindade e João Paulo Just | Foto: Arquivo Pessoal

A cerimônia de premiação, que reconhece as melhores teses defendidas no Brasil em 2024, será realizada em dezembro, em Brasília.

Outra tese de pesquisadores da Uefs que foi reconhecida foi a de João Paulo Just Peixoto, de Modelagem em Ciências da Terra e do Ambiente (PPGM). De acordo com a Uefs, ele recebeu menção honrosa na área de Ciências Ambientais, com o trabalho “Classificação de Riscos e Planejamento de Soluções Inteligentes Utilizando Dados Georreferenciados Abertos para Construção de Cidades Resilientes”.

A Língua Geral Amazônica

A pesquisadora Bruna Trindade desenvolveu uma tese pioneira que resgata um manuscrito do século XVIII, escrito em Língua Geral Amazônica e preservado na Universidade de Coimbra, em Portugal. O estudo combina filologia, história e linguística com o uso de ferramentas digitais e revela o papel central das línguas indígenas na escolarização durante o período colonial.

A pesquisa mostra ainda como essas línguas foram silenciadas diante da imposição do português, oferecendo uma nova perspectiva sobre a formação histórica do idioma e sobre a história cultural e linguística do Brasil.

O trabalho foi orientado pelas professoras Alicia Duha Lose e Zenaide de Oliveira Novais Carneiro.

Segundo Bruna, um dos maiores desafios foi lidar com a materialidade do documento analisado.

“O maior desafio foi lidar com a materialidade do códice, um documento setecentista que exigia não apenas leitura paleográfica, mas também o exame de marcas d’água, encadernação e diferentes mãos de escribas. Esse trabalho demandou tempo, recursos e acesso a acervos internacionais, além do esforço de traduzir uma escrita coletiva e pedagógica em Língua Geral Amazônica em uma edição semidiplomática rigorosa, que respeitasse a historicidade do texto”, informou Bruna ao portal Acorda Cidade, destacando a colaboração das orientadoras, que possibilitaram acesso ao acervo restrito da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra.

Contribuições para a história cultural e linguística

A investigação trouxe novas perspectivas sobre a história cultural e linguística do Brasil colonial.

“A pesquisa demonstra que a Língua Geral Amazônica foi utilizada como instrumento de escolarização e política linguística no século XVIII, em meio às tensões entre a catequese missionária e a imposição do português pela política pombalina. Para chegar a essas conclusões, o trabalho se apoiou no rigor metodológico da Linguística e da Filologia, aliando a análise paleográfica tradicional a recursos das humanidades digitais, como o uso do Python para sistematizar padrões gráficos e linguísticos.”

Ela informou ao Acorda Cidade, que a abordagem permitiu identificar diferentes escribas e compreender de forma mais ampla a materialidade do códice. Na antiguidade, os escribas eram profissionais com a habilidade de ler e escrever.

Para Bruna, valorizar e reconhecer essas línguas significa romper com narrativas coloniais que marginalizaram os saberes indígenas, resgatando sua centralidade na formação cultural e linguística do Brasil. “Trata-se de uma postura ética e decolonial, que devolve voz e protagonismo a povos historicamente silenciados.”

Próximos passos

Bruna pretende dar continuidade ao estudo por meio de publicações e materiais voltados à educação.

“Os próximos passos envolvem a publicação de livros que sistematizem as descobertas da tese e disponibilizem documentos inéditos tanto para a comunidade acadêmica quanto para a sociedade em geral. Também pretendo popularizar os resultados na rede básica de ensino, produzindo recursos didáticos que aproximem estudantes e professores da história linguística do Brasil”, informou a pesquisadora ao Acorda Cidade.

Bruna é licenciada em Letras Vernáculas pela Uefs e foi bolsista de mobilidade na Universidade de Évora, em Portugal, onde teve acesso ao primeiro manuscrito sobre os indígenas da Bahia. Também foi aprovada em primeiro lugar no mestrado da Universidade Nova de Lisboa.

Ela afirma que espera que a conquista inspire outras mulheres no meio acadêmico.“Que também inspire outras mulheres, especialmente mães pesquisadoras, a acreditarem em suas trajetórias acadêmicas.”

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